quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O CUMBUCA PESTILENTO

Não eram irmãos, mas viviam como univitelinos. Desde a terceira série. E seguiram assim até os 20 anos, quando um deles engravidou a namorada, de 17, e teve a maturidade adiantada.

A separação foi iminente. Responsabilidades diferentes, caminhos opostos. Mas quis a vida que a esquina de ambos voltassem a se cruzar quase 20 anos depois. O casado, agora com mais um, de 15, e a mais velha de 20, e o solteiro com ninguém.

Numa noite, na casa da família, estava o amigão do pai, finalmente haveria um rosto para as várias histórias que circularam pelos cantos da casa. Não se sabe ao certo qual foi o momento exato, mas quando a menina cruzou a sala, mais do que o perfume entrou com ela, uma libido avassaladora tomou conta do tio.

Sorridente, educada, parecia uma extensão do pai, formando quase que um trio de amigos. E assim passou a noite, agradável, desejou ter para si uma cozinheira como aquela e uma menina como aquela.

Viraram amigos nas redes sociais. Os gostos eram os mesmos. As brincadeiras também. Madura para a idade dela, imaturo para a idade dele. Par fatal. Quando perceberam, conversavam mais os dois que os amigos. Quando perceberam, trocaram os números dos celulares.

Um torpedo numa madrugada, um “durma bem”, despretensioso e atrevido terminou em “beijaria sua boca uma noite inteira”. Ficaram a madrugada inteira conversando por sms.

Por acaso – pensemos assim – por acaso, o quarentão saiu de uma reunião perto da faculdade da menina e a viu na rua. Ele parou, ela entrou, uma carona despretensiosa. Mas a mão dela foi mais rápido e já estava na perna dele, que acelerou e parou no primeiro Drive-in que lhe cruzou a janela, o Cumbuca.

Exatos 30 minutos por lá ficaram, e não se sabe o que fizeram porque a cortina estava fechada. Eles saíram, ele a deixou em frente ao prédio e sumiu de lá. Uma loucura. Ele estava sorrindo um sorriso besta, ela sorria outro bem mais encorajador.

O pior é que essas coisas ocorrem em duas ocasiões, uma como evento, outra quando se atribui uma narração. Mas aqui, ficaríamos com o ímpar.

Silêncio. Mas vai explicar a gargalhada que a menina soltou quando, numa caminhada com o pai e a mãe – no momento em que passavam pelo Drive-in, viu um bloco de concreto na entrada e o selo da Anvisa interditando o local. Se os pais não desconfiaram, ao menos o órgão de segurança tratou de pôr fim ao caso.

 

 

2 comentários:

  1. Até eu dei uma gargalhada com esse final atípico. Muito bom! Parabéns!

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  2. Valeu, Lu, acho que sua gargalahda deve ter sido igaul à da moça! MEDO!!! - rs

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