Numa
tarde de trânsito intenso em São Paulo, ou seja, qualquer dia da semana, em
plena avenida 23 de Maio, um motorista de ônibus, crioulo imenso, de 1,90, deu
uma fechada numa Kombi enferrujada, guiada por um japonês de uns 70 anos, mais
enferrujado ainda.
A
discussão foi iminente, pois homens disputam duas coisas nessa vida, mulheres e
as pistas das ruas. A Kombi acabou quebrando e o trânsito parou, acalorando
mais os nervos.
Nunca
se soube os nomes dos envolvidos, mas se pudéssemos batizá-los de George
Foreman e senhor Miyagi, os contornos seriam tão perfeitos. Um xinga daqui e
outro de lá, até a paciência ceder. E cedeu. Bastou um “Vou partir sua cara” e nunca se soube de quem veio, para o pastelão
começar.
O
gigante desceu do ônibus, e o gafanhoto saiu da ferrugem. E enquanto todos se
pasmavam com a morte iminente do velhinho, eis que o show começou. Em movimentos
convidativos, um prenúncio ao combate, o pequeno oriental começou a fazer os
movimentos do Kata, uma dança que antecipava o ataque.
Respiração,
determinação, concentração, movimentos perfeitos, olhos vidrados, tensão no ar.
A roda se abriu, a montanha estaria perdida e olhava aos lados numa espécie de
ajuda. Sabia do que aqueles japoneses mirrados eram capazes.
Ficou
num impasse, se tomasse uma surra, talvez ficasse anos no chão, pela vergonha e
a burrice de comprar uma briga daquelas. Aqueles movimentos circulares amedrontariam
qualquer guerreiro.
E
foi então que aconteceu, foram apenas dois golpes, e poderiam ter sido mais, se
Miyagi-san não tivesse desmaiado e acordado
apenas no dia seguinte. Pois é, já não se fazem mais samurais como antigamente.
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