Dia
desses, indo para a aula, olho par ao lado e vejo uma menina atravessando a rua
e lendo CINQUENTA TONS DE CINZA. Não importa a qualidade da leitura, o melhor é
saber e ver um leitor devorando uma história, entregue à trama e a outras
coisas também, se nos apegarmos ao teor da história.
O
que isso tem a ver comigo? Em 2002, atravessando uma viela no bairro do Sumaré,
em São Paulo, eu fiz a mesma coisa. Atravessei a rua, mas DOM QUIXOTE estava
comigo, ele, o moinho e Sancho Pança não viram também, mas um Corsa verde brecou
em cima de mim!
Paralisei
de medo e de vergonha, afinal nada justificaria minha imprudência. Quando olhei
ao motorista, havia uma coisa vermelha ao volante. Reparei que era o Nando
Reis, que, sorrindo, colocou-se pra fora do vidro e me disse:
-
Meu amigo, ninguém lê no Brasil, você acha que eu mataria um leitor?
Achei
o máximo, o susto passou e a lição ficou.
E
voltando à moça que lia E. L. James, fico imaginando se ela fosse atropelada.
Fico imaginando se eu fosse atropelado. Mesmo que a qualidade da leitura fosse
diferente, dois leitores e amantes das letras estariam mortos.
A
diferença é que eu levaria como óbolo ao barqueiro a lança de Dom Quixote e a
menina, a do Christian Grey.
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