Certa
vez fora convidado, claro, por educação, a um bailinho da vizinha. Bee Gees, uma
Caracu escondida. Meninos num canto, meninas em outro. O primeiro par se fez, o
segundo e os demais. Apenas dois ficaram lá. Ele e mais outro. Para não ficar
chato, uma das meninas decidiu largar um deles e foi até o rapaz, que, pasmo,
não conseguia sair do lugar.
A
muito custo chegaram ao centro. O menino ficou tão tenso, aterrorizado que
urinou nas calças e ninguém perceberia, porém quando saiu correndo, tropeçou no
próprio mijo. E sempre existe uma gargalhada, que puxou outras. Conseguiu se
levantar e correr, mas só depois de ouvir “esponjinha”.
A vizinhança toda estava lá.
Daquele
dia em diante, ninguém o via quase. Mudou o turno do colégio. Depois foi para
um interno, só voltava nos fins de semana e, por fim, mudou-se para o interior,
foi para casa de uma tia e de lá nunca mais voltou.
Anos
se passaram. Ele se formou em Engenharia. Mudou, saiu do casulo, tornou-se o
oposto. Contava quantas meninas passaram pela suas mãos. Era referência para tudo.
Foi ao Rock in Rio de 1985, esteve em Berlim, na queda do muro, em Londres, no
tributo a Freddie Mercury. Namorou francesas, fez amigos nos quatro cantos do
mundo.
Até
que sua mãe adoeceu e não teve outra escolha em voltar àquele lugar, àquela
rua. Entretanto adorou a ideia. Os nomes de todos não saíam da cabeça dele.
Pelas redes sociais, viu a desgraça em que se transformaram, nunca mais seriam
páreo a ele.
E
30 anos depois, ele estava de volta. Estacionou a Mercedes branca em frente à
casa da mãe. Minutos depois bastaram para servir de curiosidade aos demais. Todos
ainda moravam lá, uns tinham se casado e voltado, outros não casaram e por lá
ficaram, fato que todos queriam vê-lo de perto, porque havia mais de 6 páginas
no Google com o nome dele na pesquisa.
E
com o mesmo pensamento tacanho de bairro suburbano, todos tocaram, numa espécie
de homenagem. Quando viu aqueles seis ou sete barrigudos e pelancudas, sorriu
um sorriso delicioso. Até esqueceu que a mãe adoecera, ela mesma, porque sonhou
com aquilo a vida inteira: uma campainha ao filho.
Ele
abriu a porta, e os olhos se iluminaram. Eles ficaram boquiabertos. E um deles,
ingênua e instintivamente, soltou:
-
Nem parece o esponjinha...
Mas
se enganaram, e as risadas daquela noite voltaram e ele não conseguiu sair do
lugar, parou no meio da garagem. Congelado.
Os
anos de sucesso se foram, e aqueles asquerosos representavam todo ódio que ele
tentou esconder por anos, mas que nunca saiu de si. Aliás, naquele momento, a
única coisa que lhe escapou foi o mijo a escorrer-lhe pela perna.
Esse mijão devia comer muita soja, e estar cheio de estrogênio só pode.
ResponderExcluirCheio de insegurança, Willian!
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