O casal estava junto há 2 anos. Estabilizados
com as contas da festa de casamento a lua de mel e tudo que vem com o evento,
decidiram reformar o apartamento da avó dele, presente do filho. Os sogros dela
moravam no interior. A mãe dela, no mesmo bairro.
Como todas as economias iriam para cimentos,
azulejos e afins, a coerência pedia que fossem para a casa da mãe dela, que
morava sozinha num sobrado de 4 quartos.
Ele não queria ir.
A moça insistiu e provou, de modo correto e
sensato, porque era o correto e o sensato a serem feitos – que a única solução
a tudo seriam os 4 meses na casa da mãe. Mulher jovem ainda, 45 anos, viúva de
um militar de alta patente, amante de livros e cinema.
Ele não queria ir.
Não se carece de muita ciência ou curiosidade
para saber o resultado da investida. Levaram dois dias para se ajeitarem em um
dos quartos, com as roupas e algo mais.
Foram recebidos com o sorriso largo,
simpático e doce da sogra. Talvez fosse loucura da mente dele, talvez apenas
quisesse endossar o relacionamento entre genro e sogra ou talvez fosse apenas
um capricho, algo não estava certo.
Ele não queria ir.
Na primeira semana, ele tentava ao máximo evitar
a sogra pelos corredores ou na volta do trabalho. Sabia que ela saía muito e
tentava não esbarrar com ela sem ser nos fins de semana. Conseguiu.
Os almoços eram inevitáveis, mas teve de
concordar com a esposa de que tudo estava saindo bem. Muito bem. Os boatos dos
amantes da mulher pelo bairro não se concretizaram, e o casal conseguia evitar e
não comprovar isso
Num fim de tarde, a filha, ainda estagiária e recém-formada,
chegou mais cedo e escutou os suspiros da mãe no quarto. Desejou morrer com
isso, encarar que a mãe era gente também deve ser uma das piores realidades do
mundo. Mas era.
Ela tinha de subir e escutou do meio da
escada os urros. Decidiu voltar e seguir pra cozinha. E esperaria por lá até as
coisas se acalmarem ou se dissiparem. Ouviu a porta do quarto abrir e a mãe
falar: “Não, vá você, desça você e me traga aquele vinho”.
Uma voz abafada não foi ouvida direito, mas
estava claro que o impasse de quem desceria era evidente. “Não, querido, desça
você, vou ao banho e me traga aquele vinho!”.
O impasse estava feito, os passos foram
rápidos. Se ela saísse da cozinha, cruzaria com o cara no meio da sala ou na
ponta da escada. Decidiu ficar lá e dizer um “boa tarde” despretensioso.
E se encerra aqui mais uma história pela
vergonha alheia. Era fato, ele avisou, ele não queria ir.
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