Mesmo
que não quisesse, teve de aceitar o jantar regado à rabada e polenta. Pergunta:
quem faz rabada e polenta para um namorado novo? E naquele dia, o cara acordou
indisposto, disenteria iminente. Festa iminente. Desastre iminente. Como lançar
o primeiro NÃO? E não era um não qualquer, seria um não desastroso mesmo, ou
seja, o desastre não poderia ser pior. Poderia sim.
O
mais engraçado é que anos depois isso tudo cai por terra. Sem chances, ele
aceitou e, quando disse sim, abriu uma porta inesquecível na relação com as
mulheres. Saber dizer não também é importante, entretanto mais importante é
saber quando e como fazer isso. Tentou de tudo durante o dia, maçã, maisena com
limão etc.
A
falsa impressão de tudo estável seguiu por 3 horas sem nada. Foi recebido por
todas no portão. Assediado, apalpado. E assim estava na mesa, com aquele cheiro
aprazível de rabada. Engraçado, palavra sugestiva aqui: rabada. Não se lembra
de quando aconteceu, mas aquela sensação estável cedeu, talvez mesmo antes da
segunda garfada.
Havia
um lavabo entre a sala e a cozinha, um lavabo com respiração forçada, aquela
espécie de exaustor. A timidez seria maior, porque ir ao banheiro logo no
início da relação é um tabu. Pois no início nenhum dos dois faz o um ou o dois.
E tudo misturado. Tudo novo.
E
lá se foi. Fez o que tinha de fazer. Até se orgulhou da rapidez com que
terminara. Mas o clichê do horror: não havia papel higiênico. Horror. Havia
nada. Nem toalha, parecia que o local era tudo, menos um lavabo. Horror. E o
nome dele invocado a todo instante. O que era invocado lá dentro era melhor não
ser falado. Não havia bidê. Mas um lavabo dispõe de um lavatório. Sim. Havia
um. Menos horror. A atitude talvez não tenha sido a melhor. A altura não era
suficiente. Ele fez o improvável. Sentou-se. Sim. Sentou-se no lavatório.
Talvez o que viera em seguida não seja surpresa.
A
água escorrendo por debaixo da porta, logo após do estrondo imenso que
aconteceu lá dentro. Além do rabo sujo, tinha os pés molhados e tinha de sair
de novo para exibir a vergonha. Sim. Queria ser como o exterminador, se fosse
feito de mercúrio líquido, esvair-se-ia pelo chão e se formaria do lado de
fora. Melhor colocar um saco na cabeça e sair. O namoro não durou muito, mas
aquela cena sim foi antológica.
A
duras penas, ele teve de aprender uma forte e decisiva lição: os nãos também
são importantes.
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