Metade
da rua lotada, cheiro de favo e de churrasco no ar, trazia aquela mescla de
festa de vizinhos em que era uma curtição ficar até mais tarde na rua, e haveria assuntos para meio ano.
O
pior é que em meio ao caos instalado tudo funcionava, a começar pela organização
das fichas. Sim, você escolhia o que comeria e beberia e comprava tudo antes em
dinheiro estilo “banco imobiliário”.
E
o primeiro impacto, havia fila para quem fosse comprar com dinheiro e outra com
cartões de débito. Tecnologia na quermesse do bairro, é como flor artificial - mas optei por ela.
As filas da barraca da fogazza e a do cachorro-quente eram imensas e, em meio às nonas servindo
de modo vagaroso, tudo funcionava.
O mais interessante é o olhos-nos-olhos
e o sorriso fácil, deixando qualquer impaciência para trás. Endosso que a
simpatia acaba sendo a melhor propaganda. E mesmo que houvesse mais pão que
salsicha, ainda assim se tornou o melhor sanduíche do mundo.
Na
barraca da fogazza então, a coisa era mais complicada, a fila organizada andava
pouco, você chegava, a nona do caixa anotava seu pedido, sorria e as outras,
lentamente, chamavam pelo número: certeiro. E o olhar estava lá, sorrindo e
felizes por estarem servindo.
E
quanto custaria tudo isso, e um favo no fim e mais um suco? Exatos 14 reais,
menos que muita sobremesa por aí. Não foi pela quantia, poderia ser tudo uns 50
reais, fato é que me vi na década de 80, com a melhor jaqueta, o iate quadriculado
e o dinheiro contado.
Deixei
o local umas 23 horas, saudoso, coisa que raramente valorizo. Ao chegar no
estacionamento, fiquei mais saudoso ainda – em meados de 1980, eu ia a pé à
quermesse - o cara me cobrou 30 reais justamente porque disse que iria ao
evento.
Cazzo,
a pergunta grunhida e mal-humorada do tiozinho valia 30 reais, por uma hora e
meia?!
Com
isso, saí mais satisfeito ainda, porque, se cada nona me cobrasse o valor do
sorriso e do olhar que me deram, seria a primeira quermesse a ser dividida em 6
vezes no cartão e em 10 no boleto bancário.
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