Nunca acreditou em Deus. Talvez por Ele não
aparecer entre os parafusos e os inúmeros automóveis da oficina, ou simplesmente
por estar em falta no mercado, porém isso talvez mudaria radicalmente de uma
forma outra naquela noite.
Juan Jesus Arribal era filho de espanhóis e
herdara há anos da família uma rede de restaurantes na capital. Foi a avó que o
incentivou a abrir a primeira panela. Chegou a chef, formado em Paris e voltou
pronto a tudo. Uniu o fogão à administração, os 3 estabelecimentos viraram 8.
Nunca acreditou em Deus. Talvez por Ele não
aparecer entre as faturas ou por o restaurante sempre estar lotado, em esperas
intermináveis, contudo isso mudaria radicalmente de uma forma ou outra naquela
noite
Sabe-se lá por que motivo o milionário estava
sozinho naquela avenida numa noite fria, afastada. Os assuntos que o levaram
até lá podem não ser pertinentes, entretanto nos é essencial perceber que o
carro começou a engasgar há 15 minutos. O importado tinha uma engenharia
difícil, ignorância do dono, que dispensou o motorista para velar a mãe.
Assim que entrou naquela avenida, percebeu que
o carro falhou e parou. A quase madrugada não serviu de empecilho ao caótico
trânsito da capital. Os 9 graus poderiam ser definitivos a isso também. Taxi
àquela hora seria uma bênção. Não havia algo vivo por ali. E sabe-se lá quem
seria a seguradora ou o corretor do homem, falta de bom senso acordar a
secretária para tal.
Quis o destino e por sorte de Juan que a
cunhada de Roberto fosse geminiana e aniversariasse sempre no inverno. Quis o
destino e por sorte de Juan que Roberto gostasse tanto dela que fizesse questão
de aparecer, mesmo naquela segunda-feira. De longe avistou o pisca aceso e o
capô aberto.
Nunca entendeu por que - mesmo que alguns
motoristas só soubessem guiar – certas pessoas tentassem enxergar um problema
invisível. Talvez fosse um sinal, um chamariz, um “Me ajudem”. E assim se deu.
Pelo carro e pela cara do dono, o sobretudo constatava o fato, decidiu se
aproximar ou até esperar que o guincho viesse.
Ressabiado e assustado, o empresário olhou
Roberto, que, com um sorriso e de mãos dadas à esposa, afastou qualquer
possibilidade de ameaça. Não se sabe o que falaram, porque a distância não nos
permitiu ouvir. Fato é que, mexe daqui fuça dali, em meia hora o carro funcionou.
Ainda que preferisse voltar de ônibus e não
cobrar o serviço, mesmo porque aquilo foi apenas um ajuste para que se voltasse
seguro pra casa, foi convencido a subir no carro e a ser levado pra casa.
Conversaram muito durante o trajeto. Antes de
deixá-los, o casal recebeu um jantar cortesia em um dos restaurantes da rede e
a promessa que, assim que amanhecesse, o carro estaria numa oficina para o reparo
total. O casal se protegeu do frio e o empresário, dos riscos.
Dias depois, um cartão chegava pelos
correios. Sim, de agradecimento, de profundo apreço a pessoas únicas. Junto a ele,
havia um farto cheque, com a promessa de nunca mais precisarem de ônibus. Se
anjos existiam, Roberto era prova viva de que Deus organizava as coisas por
ali.
Ao mecânico, de uma forma ou outra, este sim
poderia, no carro seminovo que pagou à vista, colocar o adesivo e divulgar literalmente
a boa-nova: “Foi Jesus que me deu”.
KKKKKKKKKKKKKKKK Boa mestre, gostei!!!!
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