A paciência é a virtude mais desejada entre todas. Quem a tem, tem paz, tem amor, tem tudo. Uma pessoa pacienciosa é um milagre vivo. E por essas e outras que a morte não vem, a agressão se atrasa e a raiva não tem convite. Pois quis naquele dia que dona Joana, no auge dos seus 90 anos, teimasse em perder o controle do TV.
Virou, revirou, mexeu e remexeu. Nada. A casa estava vazia naquele sábado, apenas o genro a fazer algo aqui ou acolá, escutou lá debaixo a voz firme da sogra:
- Rivaldo?
- Sim, dona Joana.
- Você pegou meu controle remoto, devolva-o.
- Não, eu não peguei. Deve estar no seu quarto.
- Não está! Devolva-o!
- Não posso devolver algo que não peguei, procure direito!
- Além de ladrão está me chamando de esclerosada? Devolva-o!
- Não peguei coisa alguma da senhora e não a ofendi!
- Quero meu controle!
O homem subiu em três passos e entrou no quarto dela. Virou, revirou, mexeu e remexeu. Nada.
- Não está aqui, dona Joana.
- Eu sei que não e a esclerosada sou eu?! Devolva-o para mim!
De nada adiantaria o homem se defender. Entre pedidos e acusações, saiu como um louco à caça de um controle remoto qualquer. Não poderia ter sumido, porque ele não saía do quarto da senhora, que, entre impropérios e imprecações, amaldiçoava todas as gerações do pobre infeliz.
Quase quinze minutos de buscas e nada. O silêncio se fez. Ele desejou ter o problema solucionado e a encontrou no corredor.
- Tudo bem, dona Joana?
- Como posso estar bem? Não tem pão nessa casa!
Ótimo! O controle foi esquecido e bastava um pulo na padaria para tudo se acalmar. Decidiu sair rapidamente, não sem antes escutar outra vez: "Rivaldo, onde está meu controle?!". O homem pensou rápido. Subiu, trancou a porta do quarto para que o seu controle não fosse surrupiado, levou a chave consigo e seguiu à padaria.
Quando voltou, encontrou dona Joana sentada na sala, calma, quase num sono profundo. Ela o viu e sorriu. E assim que viu que ela sentava em cima do controle, ele não titubeou:
- Seu controle, dona Joana! A senhora encontrou!
- Que controle?
Rivaldo calaria a boca com os dois pães que trouxe e, antes que mordesse o primeiro...
- Nunca mais roube meu controle!
... teve a certeza de que, por essas e outras, a morte não vinha, a agressão se atrasava e a raiva não recebia convite.
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