E, entre os pés apressados, deve ter sido pisado umas duas vezes, mas continua
impávido por ali. Sol, tarde, chuva, vento, a santa capinha o protegia de
intempéries e afins.
Dia
seguinte, passava um rapaz entretido em seu mundo, com o ipod nos ouvidos e os
olhos no chão. Viu o documento verde ali e de pronto se agachou. O instinto de
olhar aos lados imediatamente foi natural, mas, num domingo pela manhã, seria
pouco provável achar um rosto compatível àquele da foto, lindo por sinal.
Imaginou
como estaria a menina, de 25 anos, e seus pais, todos preocupados. O BO já
deveria ter sido feito, ou um novo documento em vias de ser tirado. Fato também
que ele poderia ter se apaixonado pela menina, aqueles clichês que somente
acontecem em romances de bancas de jornal.
Nunca
se imaginou numa sessão da tarde, mas decidiu guardar o documento, numa espécie
de Cinderela moderna. Poderia passar uma vida correndo a cidade para achar a
moça.
Não
parou sua vida para isso. Mas teve a forte sensação de aquilo ser seu destino.
Uma brincadeira deliciosa de momentos felizes vindouros. Ele poderia se apaixonar
por aquela foto. Ele queria.
No
fim de semana seguinte, voltou ao local torcendo para que a menina também
pudesse estar lá. Improvável. Nada. Ela não foi, mesmo que ele tivesse ficado
apenas um minuto naquele quarteirão. Seria uma insanidade pensar que ele a
acharia. E riu de tudo, crendo que era uma bobagem.
Nos
dias que se seguiram, várias vezes se deparava olhando para aquela foto, a
música que tocava quando ele encontrou o documento lhe vinha à mente. Ele guardou
o documento junto ao seu. Num farol, num momento qualquer, perdeu a conta de
quantas vezes a coincidência aparecera.
Era
olhar a foto e a música tocar, no rádio, em seu Ipod, numa propaganda de rua,
alguém cantarolando. Não podia ser. Tinha de ser ela. Uma semana. Um mês. Dois.
Meio ano, e a vida do rapaz estava um inferno. Morria de paixão. Os amigos o
incentivaram a colocar a foto nas redes sociais, ainda que ela não estivesse em
nenhuma, alguém de vida virtual poderia conhecê-la. Tentou, nada.
E
no aniversário de um ano, ele jogou todas as fichas, sonhos e esperanças. Foi
para aquele quarteirão, com a mesma roupa, no mesmo horário e com a mesma
música nos ouvidos. Quem sabe um ritual forte demais para trazê-la,
materializá-la. Quem sabe?
Ela
não apareceu, como previsto, porque o previsto sempre impera. E se pudesse
saber o que aprendeu com tudo aquilo, diria que despendeu energia demais a algo
qualquer, porque nem todos os sonhos merecem nossa atenção, porque nem todos os
sonhos são sonhos, podem ser apenas uma boba e caprichosa teimosia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário