Não murcharam, não caíram. Sem perceber – mas
isso seria inevitável – faz uma comparação com a própria vida até aquele
momento. 46 anos, 5 casamentos falidos, duas pensões em atraso, 4 empregos
mal resolvidos.
Tentou contar quantos amigos tinha, amigos daqueles
que se escoram bêbados voltando sabe-se lá de onde. Tentou duas vezes, não
conseguiu.
Também não lembrou quando foi a última fez
que a única filha havia telefonado a ele sem a desculpa de um extra ou para
reclamar pela falta disso. Preferiu não ir a fundo para não se chatear ainda
mais.
E os irmãos? Os 4, tirando a mais velha,
morta num enfarto fulminante, tentou também se lembrar qual foi o último contato:
na missa de sétimo dia do pai, morto três anos depois da mãe.
Mas tinha o Chico, sim, mesmo que fosse o
barbeiro, era bom ouvinte, bom papo e, ao menos uma vez por mês, talvez
precisasse só disso, ele esquecia um pouco sobre toda a solidão que o acompanhava.
Naquela manhã, pesou todos os dias que viveu
e chegou a conclusão de que havia nada do que esperar, havia nada do que se gabar.
Todos os insucessos possíveis lhe eram de domínio. Sem amigas, sem amantes,
percebeu que a maior aventura da sua vida foi ter se perdido num bairro da zona
norte.
Não recebia mensagens há dias, ninguém havia
curtido sua última postagem, há dois meses.
Havia todos os motivos para ratificar a
própria insignificância.
“Pro inferno”, pensou. Ao sair da padaria,
chegou perto das plantas vermelhas, tão lindas, tão bem cuidadas, tocou-as e
sentiu que tudo poderia mudar. Uma onda de euforia e de ânimo voltaram a si
como um frenesi. Sentiu-se jovem, renovado, um milagre de Deus.
Ao sentir o toque da natureza, soube que a
tudo haveria uma cura. Sim, as plantas eram de plástico.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMas que "CAZZO"!!!
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