Tentou se divertir o fim de
semana todo, mas aquela prova de álgebra lhe tirava as atenções. Culpou-a pelos
dois gols perdidos. Amaldiçoou-a por os amigos não poderem aparecer para mais
uma rodada, justamente por causa do teste. Desejou morrer porque tinha de estudar
algo que não entendia. Imaginou-se na máfia, em que se endossava o ditado
"Se não entende algo, livre-se dele". Mas não, era estudar ou... Sim!
Uma cola!
Óbvio! Quem precisaria
passar horas debruçado em algo que não lhe serviria para o resto da vida, já
que podia, por alguns minutos, materializar o pensamento em lembretes? Decidiu
que depois do macarrão daquele domingo, elaboraria a melhor de todas elas e
provaria ao professor - não, a esse não -
e provaria ao sistema que álgebra era tão inútil quanto um ioiô.
Mas antes decidiu ver o
filme. Depois, foi ao banho, jantou e aí sim, abriu o caderno e se deparou com
o horror. Havia cerca de 10 exercícios sobre o assunto. Como não sabia qual
poderia cair, o menino decidiu copiar todos. Mas deveria fazê-lo em algo
minúsculo. Fez o primeiro, o segundo.
Não percebeu, mas o
terceiro, ele resolveu, assim como o quarto, o quinto! E sorriu, sentiu-se
poderoso, porque a mágica começou a acontecer. De repente, não precisava mais
de cola, de professor, de nada, sentiu-se autodidata, ainda que desconhecesse a
palavra.
Do quarto ao décimo, ele
resolveu e foram 7 acertos. Como?! Não se deve mexer no milagre nem na fé. Por instantes,
viu que a matemática se tornava parte de si. Como os dedos estão para a mão.
Por instantes, eles e os números, um só.
Esqueceu a cola, tinha
vontade de anunciar a todos o feito, mas não saberia como explicar à mãe nem ao
pai que a cola o motivou, a cola o despertou, que realmente a cola era a melhor
opção à vida, às provas.
Acordou feliz e tomou café
radiante. Seguiu feliz à escola e entrou na sala radiante. Sorriu feliz e
pegou a prova radiante. E o sorriso se intensificou quando viu as questões.
Resolveu tudo tão rápido e tão perfeito que entregou a prova sorridente e
seguiu radiante de volta ao seu lugar.
Para se gabar, pediu licença
ao professor para deitar a cabeça e cochilar. Não percebeu os olhares raivosos
de todos. De tão feliz, adormeceu. E despertou minutos depois com a mãe ao seu
ouvido: "dormiu sentado estudando, filhão? 10 é pouco hoje, hein?! Vamos, o café está na mesa!".
E percebeu realmente que
havia algo mais inútil que o ioiô e a álgebra...
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