terça-feira, 24 de novembro de 2015

ÁLGEBRA...

Tentou se divertir o fim de semana todo, mas aquela prova de álgebra lhe tirava as atenções. Culpou-a pelos dois gols perdidos. Amaldiçoou-a por os amigos não poderem aparecer para mais uma rodada, justamente por causa do teste. Desejou morrer porque tinha de estudar algo que não entendia. Imaginou-se na máfia, em que se endossava o ditado "Se não entende algo, livre-se dele". Mas não, era estudar ou... Sim!

Uma cola!

Óbvio! Quem precisaria passar horas debruçado em algo que não lhe serviria para o resto da vida, já que podia, por alguns minutos, materializar o pensamento em lembretes? Decidiu que depois do macarrão daquele domingo, elaboraria a melhor de todas elas e provaria ao professor - não, a esse não -  e provaria ao sistema que álgebra era tão inútil quanto um ioiô.

Mas antes decidiu ver o filme. Depois, foi ao banho, jantou e aí sim, abriu o caderno e se deparou com o horror. Havia cerca de 10 exercícios sobre o assunto. Como não sabia qual poderia cair, o menino decidiu copiar todos. Mas deveria fazê-lo em algo minúsculo. Fez o primeiro, o segundo.

Não percebeu, mas o terceiro, ele resolveu, assim como o quarto, o quinto! E sorriu, sentiu-se poderoso, porque a mágica começou a acontecer. De repente, não precisava mais de cola, de professor, de nada, sentiu-se autodidata, ainda que desconhecesse a palavra.

Do quarto ao décimo, ele resolveu e foram 7 acertos. Como?! Não se deve mexer no milagre nem na fé. Por instantes, viu que a matemática se tornava parte de si. Como os dedos estão para a mão. Por instantes, eles e os números, um só.

Esqueceu a cola, tinha vontade de anunciar a todos o feito, mas não saberia como explicar à mãe nem ao pai que a cola o motivou, a cola o despertou, que realmente a cola era a melhor opção à vida, às provas.

Acordou feliz e tomou café radiante. Seguiu feliz à escola e entrou na sala radiante. Sorriu feliz e pegou a prova radiante. E o sorriso se intensificou quando viu as questões. Resolveu tudo tão rápido e tão perfeito que entregou a prova sorridente e seguiu radiante de volta ao seu lugar.

Para se gabar, pediu licença ao professor para deitar a cabeça e cochilar. Não percebeu os olhares raivosos de todos. De tão feliz, adormeceu. E despertou minutos depois com a mãe ao seu ouvido: "dormiu sentado estudando, filhão? 10 é pouco hoje, hein?! Vamos, o café está na mesa!".

E percebeu realmente que havia algo mais inútil que o ioiô e a álgebra...

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