De
família humilde, filho de mecânico e de uma lavadeira, seus sonhos não poderiam
esbarrar nas graxas do pai nem sumirem com as águas da mãe.
Não
se dedicou aos estudos, o pouco tempo que sobrava depois de ajudar no mercado
do senhor Antenor, ele se dedicava à dança. Fã ardoroso de Lee Majors, o
protagonista de O HOMEM DE SEIS MILHÕES DE DÓLARES, adorava quebrar gravetos
como o cara.
A
convite da professora, ele via os episódios vidrado, mal tocava no suco de
laranja. A cultura e a televisão o fascinavam e acabavam alimentando sua determinação
e barriga.
Cresceu,
fez duzentas peças no quintal de casa e duas na escola, mas teve de parar
porque as notas eram baixas. Sua obsessão foi tamanha que, num esquema –
desnecessária a burocracia aqui -, em meses, aos 18 anos, estava nos Estados
Unidos.
Arranhava
o inglês e passou a ser garçom em Los Angeles. Nos primeiros dias, descobriu um
grupo amador de teatro, que atuava para crianças com câncer. Começou como
grilo, e uma fala só, lindamente declamada como “It's a beautiful day, kids” –
ninguém dizia isso como ele, ninguém.
Falante,
simpático e obcecado - por um amigo de um cliente do bar, que conhecia o vizinho
da prima de um conhecido do assistente de um diretor - soube que o novo clipe do
Michael Jackson precisaria de dançarinos.
BEAT
IT seria filmado em dois dias, os testes levariam uma semana, o dono, com a promessa
de que Adalberto conseguiria, cobriu a sua ausência. E cá esperemos pelo
resultado.
Era
noite, quando o telefone do bar tocou. Ele servia duas cervejas, que foram ao
chão com o berro da menina do caixa. “You’re
in, you’re in, you got it, you got it!!!” – o bar veio abaixo e, por uma
noite, ele foi Michael Jackson.
Duas
noites sem aparecer pelas gravações, e a estrela estava de volta. A notícia
correu pelos clientes, que trouxeram amigos, que triplicaram as vendas de
bebidas e o caixa, que rendeu uma reforma mais tarde e um cargo de gerência ao
brasileiro.
No
dia de estreia do clipe, houve quem cobrasse entrada. Todos se espremiam para
ver nos dois TV’s espalhados pelo bar onde estaria o garçom.
Entre
os dançarinos e as ligeiras aparições, ele teve uma ideia magnífica. No
fim do clipe, ele faz uma aceno à câmera, por dois segundos (4:55 e 4:57) - está de chapéu, à direita, e levanta a mão, dando um olá ao mundo -
(se a curiosidade falar mais alto,veja o vídeo abaixo) o cucaracha esteve ao lado do rei do pop, que apertou sua mão, enquanto
conversava com o diretor.
Não,
Lee Majors não soube que seu maior fã esteve no clipe, mas aquela exibição e o próprio Bertinho - ao menos aos pais - valiam mais do que 6 milhões de dólares e eram mais talentosos que Gene Kelly.
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