Pelo bairro e transeuntes rotineiros, aquela
caixa de madeira forrada de objetos pontiagudos era no mínimo inusitado.
Ninguém nunca o fez, mas a vontade de indagá-lo sobre a coleção dominava o
clichê das mentes que por lá percebiam a coleção.
Começou a se tornar comum, que, em vez de
esmolas, as pessoas passassem a dar-lhe chaves. Sim, inúmeras delas. Em alguns meses, ele já colecionava
duas caixas imensas. Todos conheciam o rapaz, que devolvia com um sorriso
careca e um “Deus te abençoe” a todos que o entregavam mais uma para a coleção.
Até que um dia, uma boa samaritana, passou e
deixou a ele, em vez de uma chave, um bolo inteiro. Ele, como de costume,
sorriu e entregou uma chave a ela, que meneou a cabeça e antes que perguntasse,
ele respondeu: “Para abrir outra porta, como você abriu agora”.
O dono do açougue, que sempre acompanhou o
mendigo presenciou a cena e ficou rubro de vergonha. E começou a espalhar a
todos o que havia acontecido. E a notícia, por todos do bairro, se alastrou como
uma epidemia.
Foram incontáveis sorrisos, começou a haver
estoque de bolachas, água e, dia a dia, a duas caixas de chaves foram
desaparecendo, foram sumindo por completo.
E no fim daquele mês, já com as duas caixas
vazias, com um estoque para meses e mais meses, maiores que as duas caixas de
chaves, ele decidiu sumir de lá. Nunca mais fora visto nas imediações.
Saber enxergar quais são as necessidades que cada
pessoa careça é um dom, mas de uma coisa o mendigo sabia muito mais que os
outros, que um sorriso pode abrir muito mais portas que todas as chaves desse
mundo.
Os 4 cães adoram bolacha de água e sal.
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