quinta-feira, 19 de março de 2015

HISTÓRIAS DE CACHORROS

Quando se contam histórias de cachorros, a tendência é que a comicidade domine a narração. Como meu envolvimento com eles é quase diário, seja na rua, numa caminhada ou simplesmente num farol, tenho colecionado fatos inesquecíveis e cômicos.

Certa vez, quando morava em Guarulhos, eu me deslocava até a estação Armênia e lá pegava um ônibus. Pontualmente, às 22h45, ele saía. Pontualmente, havia um pipoqueiro com seu fiel amigo.

Até aqui, sem problemas, o que atraía a clientela era a performance do bicho. Propositadamente, o dono sintonizava o rádio numa estação evangélica, em que se ouvia uma pregação. E, a cada "Salve, Senhor!" que o pastor emitia no culto, o cão uivava, sem que depois o pipoqueiro emendasse, "é o cão, é o cão".

E já que falei de cães e metrô, uma das cenas mais bizarras que presenciei foi numa fila de pessoas para comprar bilhetes. No meio dela, havia um cachorro, que se sentava cada vez que a fila parava e andava cada vez que ela se movimentava.

Hilário ver todos rindo da civilidade do cão, que, por sinal, serviria de exemplo a alguns ogros que existem por aí. Não pude ver o que ele faria ao chegar no guichê, mas não me espantaria se ela pedisse um "múltiplo de 10", dos anos 90.

Ou ainda, na tão badalada e conhecida Embu das Artes, ver aqueles quadros horrendos na calçada, melhor ainda é ver um vira-lata gracioso chegar perto de um e, sem pudor algum, levantar a perna e dar o aval de sua crítica.

Deixei a minha preferida por último. A minha pug Mafalda era especialista em chinelos e tarada por eles. Costumava caminhar com ela todos os dias. E numa manhã de domingo ensolarado, passei em frente a uma casa, cujo dono estava sentado com os pés descalços e os chinelos à sua frente.

Como andava com meu ipod, entrava no meu vídeo-clipe e não me atinha ao que a danada fazia. Geralmente eu tinha de conter a ansiedade dela, que teimava em me puxar. Portanto ela sempre estava às minhas vistas.

Alguns metros depois de passar por aquele homem, na esquina, eu olho para ela e vi um pé de chinelo naquela boca nervosa. A sensação de vergonha e dúvida me assaltaram de imediato.

Olhei para trás e vi o homem vindo sorrindo em minha direção. Tive de me desculpar com ele, mas tenho certeza de que o descalço não ficou bravo, porque a bandida, ao vê-lo vindo, sentou-se e largou o chinelo no chão.

Seja uivando, seja comprando bilhetes de metrô, criticando um quadro ou roubando um chinelo delicioso, as histórias de cães convidam a mais outras, cães são anjos leais e creio que todos nós deveríamos ser mendigos nessa vida.




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