João nasceu rico, em berço dourado e com clichês de Leblon. Filho e neto únicos, teve a sorte de avós ricos, pais milionários e ar-condicionado no quarto. Perdeu roupas até os 2 anos, porque não conseguiu usar todas e em troca da chupeta ganhou mil dólares na poupança.
Jorge nasceu pobre, no corredor de um hospital no extremo leste de alguma grande cidade. Caçula de 5 irmãos, não teve avós ou avôs, nem pai ou circulador de ar nas noites de verão. Ganhou dos irmãos roupas até 2 anos, porque eles também ganhavam dos vizinhos e da igreja. Em troca da chupeta, ganhou um pedaço de frango, o primeiro em 3 anos de vida.
João teve uma infância com jasmins, brinquedos e uma babá. Nunca ralou o joelho jogando bola na rua e adorava iogurte com frutas vermelhas pela manhã. Aprendeu a primeira música em inglês aos 7 e em francês aos 9. Tocava piano e era prodígio aos 12, quando deu o primeiro beijo numa filha de um embaixador.
Jorge teve uma infância com pés na rua. Tirou o primeiro tampão do dedão aos 5, mesmo impedido no futebol, e adorava o suco de laranja quente na hora da xepa, quando pegava as verduras descartadas. Viu um pandeiro pela primeira vez aos 9 e tomou seu primeiro soco aos 13, quando pegou na mão da menina cujo pretendente era irmão do dono da boca.
João teve uma adolescência maravilhosa. Completou os estudos na Suíça, fez faculdade na Alemanha e começou a namorar uma italiana. Voltou aos 24 anos para assumir a diretoria da empresa do pai. Aos 25, era pai de gêmeos e se mudara para o duplex na zona sul.
Jorge teve uma adolescência árdua. Conseguiu uma vaga no Senac e um estágio como mecânico de avião. Sonhava fazer uma faculdade, todas as noites, quando ninava a filha sem a mãe, que morreu no parto. Estava feliz porque começara seu curso de inglês e vibrou quando conseguiu guardar os primeiros 100 reais na poupança.
João fazia 45 anos em Paris, mesmo a empresa não passando por momentos bons, ainda assim conseguiu viajar de primeira classe. Os gêmeos não trabalhavam e viviam gastando o dinheiro do pai pelas ruas do Soho. Divorciou-se havia 5 anos e perdeu as duas casas no Guarujá e no Rio para a ex-esposa. Na volta da viagem, teve de demitir 50 funcionários, como contenção de custos e vender a mansão no Morumbi. Conseguiu alugar um flat nos Jardins.
Jorge fazia 45 anos com 50 mil reais na poupança. A filha estava no segundo ano em Direito, na São Francisco. Tomaram o primeiro pro-seco juntos há 5 anos, quando comemoraram a casa própria no centro-sul de SP. Estava encantado com o TV HD e dormiu feliz vendo em qualidade digital o primeiro filme que assistira no cinema, há 25 anos.
João perdeu a empresa por falta de administração. Estava vivendo da herança do pai, cujo montante se consumia rapidamente. Aos 55 anos, desejou que seus filhos estivessem perto, mas preferiram se virar pelos bares de NY, eram bons garçons e não escreveram no Natal daquele ano.
Jorge conseguiu se aposentar aos 55 anos. Estava com 70 mil reais na poupança e teimava em não aceitar os 2 mil reais mensais da filha, referência no Direito Tributário. Ela preferiu depositar a quantia direto na poupança do pai, que chorou como criança ao ver Roma e a Torre Eiffel e fez amizade com o garçom brasileiro daquele restaurante do Soho. Passou o Natal com os netos no apto. de 250m² em um bairro nobre e odiou caviar.
João estava no asilo, aos 70 anos. Só, sem luxo, mas digno, mantido pela caridade de uma sobrinha. Ainda tinha o Rolex como lembrança e lia o LE FIGARO para exercitar o francês. Soube naquele momento que não se vive do passado.
Jorge estava na fazenda da filha, aos 70 anos. Olhava aquela serra linda e via as netas a cavalo. Acenava a elas enquanto tentava treinar o inglês lendo SPEAK UP. Soube naquele momento que não se vive do passado.
q linnddoo :')
ResponderExcluirObrigado, Paula!
ExcluirPerfeito. Sem mais. Nem menos.
ResponderExcluirObrigado, Ohana! Ah, e dubitável existe! - rs
ResponderExcluirNossa! Eu já estava quase com a certeza de que não existia mesmo! Rs
ExcluirObrigada!!