Costumo
falar aos alunos que o melhor método pra se aprender algo é pela dor, o mais
eficaz e o perpétuo. E não digo isso só por parecer uma dica, mas por ter
vivenciado várias dores ao longo da vida.
Antes
de seguir, queria passar uma regra gramatical. Você deve se lembrar da VOZ
PASSIVA. A oração “EU CORTO O PÃO” na voz passiva ficaria “O PÃO É CORTADO POR
MIM” – talvez tenha ajudado. Salvo com os verbos OBEDECER e DESOBEDECER, não há
voz passiva quando o complemento do verbo trouxer preposição, por exemplo “EU
PRECISO DE DINHEIRO”, a voz passiva estará errada.
Há
18 anos, na primeira semana de estágio, e no primeiro semestre do curso de
Letras, trabalhava numa empresa de educação elaborando materiais didáticos, no
setor de Língua Portuguesa. Quando o telefone toca.
Confiante
atendo ao chamado, era uma mãe de um aluno de tal franquia. Ela tinha uma
reclamação sobre o material didático. Corretamente, a mulher apontou um
problema de voz passiva.
A
oração trazia o verbo ASSISTIR, no sentido de ver, presenciar. Quando tal
significado é abordado, o verbo pede a preposição A. Daí “Eu assisto Ao filme”.
Logo a voz passiva presente na oração “O FILME É ASSISTIDO POR MIM” e no livro estava errada.
Com
exatos 3 meses de faculdade, fui soberbo e ignorante ao discordar da
mulher, dizendo que tal oração era possível. Ela educadamente discordou,
endossando a regra correta. E eu, mais uma vez, confiante no meu futuro título
e estágio, disse que ela estava errada.
Mais
uma vez, sem perder qualquer compostura, ela soltou para mim: “Menino (isso dói
até hoje), por favor, passe a ligação para alguém que entenda (isso dói mais
ainda)”. Tomado de ódio, passei a ligação para minha chefe e fui atrás da minha
justificativa em livros de gramática.
Enquanto
as mulheres conversavam, eu comia livros e livros. A empáfia daquela mulher
teria de descer a seco. E minha chefe me defendendo até. E percebi que não era
o meu ponto de vista que ela defendia, mas o que eu faria na empresa: livros
didáticos.
Meu
coração quase gelou, assim que me deparei com a regra defendida pela mãe. Sim,
ela estava certa, e eu, errado. Naquele momento, as palavras do meu pai me
vieram à mente: “Educação abre portas!”.
E me lembrei que, mesmo errado, ela não havia me destratado. E que a mim
só cabia uma atitude.
Assim
que pude, fiz um sinal à minha chefe para passar a ligação de volta a mim. Ela
o fez e eu, vermelho de vergonha, disse que a mãe estava certa e que aceitasse
meus pedidos de desculpa por não ter agido de modo correto.
Ela
aceitou educadamente minhas desculpas e aconselhou ficar focado nos estudos. Ao
desligar o telefone, olhei para minha chefe, que chorava copiosamente, dizendo
que eu – um menino de 22 anos – teria um futuro brilhante, engolindo meu
orgulho.
O
tapa que levei aquele dia, hoje me é doce, mas engolir a seco minha própria
empáfia, minha própria soberba, foi um dos azedos mais eficazes à minha
vida.




