Quem tem TOC sabe bem o transtorno e a delícia disso. E pode se resumir assim, pois o transtorno vem quando a delícia da rotina é quebrada. Um quadro torto, uma franja na testa, uma etiqueta pra fora, uma pia com louças sujas podem e vão tirar a concentração do resto dia.
Ter esse desvio não é uma bênção nem um fardo, apenas é. Como ser loiro, ter rinite ou alergia a algo, conclui-se que o TOC acaba sendo a alergia à falta de detalhe. Os detalhistas sofrem e o excesso disso desencadeia a doença moderna.
O rapaz tinha esse distúrbio e passava por algo ainda pior, o esquecimento. Não, ele não se esquecia de arrumar algo ou das manias, mas de fazer algo que não era de sua rotina. Datas de aniversários, compras no shopping, contas esporádicas.
Quando não se esqueceu de ir ao médico, saiu de lá com um comprimido para reavivar a memória - não que isso exista, apenas algo inofensivo, à base de vitaminas, mais um exercício para se treinar o cérebro - que deveria ser tomado todas as manhãs. Sempre pela manhã, num horário fixo e antes do café. Ótimo, mais uma mania que entraria na lista.
Mas o tratamento, parece-nos, não está dando lá certo. Todas as noites, ele leva um copo de água, que é consumido sempre no mesmo horário, pontualmente às 2h, quando se levanta para ir ao banheiro.
E pela manhã, o copo está vazio, e mesmo que ele queira tomar o remédio, não há como não ir ao banheiro, escovar os dentes e fazer o desjejum, porque se tiver de ir até a cozinha antes de fazer todo esse ritual, com certeza algo dará errado, desencadeando uma guerra mundial.
Parece paradoxal, mas ter a rotina de ter desenvolver outra rotina não está na rotina de alguém com um transtorno desses.
O comprimido? O cachorro comeu naquela manhã.
Organizar a vida não me parece "Toc", apenas uma forma de não ser relaxado. Rs
ResponderExcluir