Decidiu
aliviar a carga da inveja e alimentar a do final feliz. Voltou para a mesa
tentando não pensar que tivera somente relacionamentos frustrados, que uns tinham
mais, porém valorizavam menos ou o inverso. Tentou imaginar um futuro melhor e,
na hora do almoço, driblou os colegas, pegou seu ipod e decidiu esticar a
calçada e fazer as unhas.
Empolgou-se
e arrumou o cabelo. Comeu duas barrinhas e voltou para o trabalho. O comentário
foi geral, havia um amor novo. Mais de dois anos de empresa, e era a primeira
vez que se mostrava assim. Apareceram dois bombons em sua mesa, e, se bobear,
até as flores da amiga murchavam um pouco.
A
tarde passou sem maiores atropelos. Fuçaram nas redes sociais e nenhuma pista.
Aquela produção toda deveria ter um propósito, mas quem era seria esse
propósito. Na hora do café, duas até tentaram algo, nada conseguiram.
Na
hora da saída, até espreitaram jurando que alguém apareceria. Não. Ela seguiu
só até o carro e só seguiu até em casa.
Entrou,
abriu a porta e escutou o silêncio que a recebia natural e timidamente. Ignorou
a solidão. Ligou o som e abriu a geladeira. Abriu uma latinha de cerveja e
dançou o máximo que seu fôlego conseguiu. Não ligou que o cabelo desmanchasse, esperou que a endorfina aparecesse.
Foi
ao quarto. Despiu-se do modo mais provocante que sabia. Não se convenceu. Enxergou-se com a lingerie preta. Virou de lado, as celulites
não a atacaram. Passou a mão pela perna e sorriu com o tom do esmalte, acertou
em algo.
O
celular tocou: mensagem.
Ela
correu, leu, sorriu e respondeu. De repente, não se sentiu mais sozinha. Em
meia hora, o interfone toca. Ela manda a visita subir. A porta se abre, e se
abraçam fortemente.
Há
que se ter coragem para encarar a realidade, há que se ter força para admirar
alguém, há que se ter carisma para servir de exemplo - tanto como para
confessar que é duro receber flores de si mesma.
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