Sentou-se
na praia deserta. Olhou adiante e, tão indeciso quanto as ondas, ora desejava ser
engolido por uma ora torcia para que algumas não o pegassem. Olhou aos lados e
só sentiu a brisa forte. Respirou fundo.
Teve
a ideia de se levantar e andar. Teria de andar, talvez sentir a areia
prender-lhe os movimentos, não poderia saber se algo o agarrava ou se desfazia
do passado. Não percebeu que o mar apagava suas pegadas. Talvez desejasse que
apagasse as dores que acumulou até aquele dia.
Não
havia sol e pensou ser como sombra, intocado por nada. Teve a certeza de que
Cristo não teria passado quarenta dias em reclusão, porém era disso que
precisava. Andaria por 40 dias, ficaria calado por 40 dias, purgar-se-ia por 40
dias.
Havia
ninguém por ali. Caminhou por uns 15 minutos e, como na vida, sentiu que, mesmo
andando, parecia estar no mesmo lugar. 15 anos deixados para trás, os mesmos 15
minutos deixados para trás. Respirou fundo. Ajoelhou e passou a cavoucar a areia
com o indicador, como se pudesse procurar algo, desvendar outro ou esconder
mais um.
Não
se lembrou se deixou os chinelos no carro. Sentiu frio, sentiu-se só, mas não
solidão, um vazio, porém não se entristeceu com isso, apenas sentiu. Tentou
deixar o som em volta dizer o que tinha de ser dito. Deixou que a própria
consciência tentasse gritar mais que a maresia daquela tarde cinza.
Sentou-se
nos calcanhares, abraçou os joelhos e não imaginou até quando pudesse ficar
daquele jeito. Procurou alguma resposta em mais uma onda que chegava e perdeu
as contas de quantas esperou para isso acontecer.
Viu
um siri, que tentava se enfiar na areia. Pensou em ajudá-lo, preferiu não. Enfim, o
bicho conseguiu.
E
foi então que soube que tinha de fazer, a única coisa cabível, a última chance
e mais uma de acertar. Tantos anos andando de lado, decidiu ser siri e se
esconder no mundo, enfiar-se na vida e tampar-se com os dias.
Voltou
ao carro, pôs-se na estrada e seguiu. Os chinelos ficaram na praia mesmo, pois
os pés que os calçaram uma vez agora não lhe serviriam mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário