terça-feira, 8 de dezembro de 2015

O SINO AINDA NÃO TOCOU


Sentou-se na praia deserta. Olhou adiante e, tão indeciso quanto as ondas, ora desejava ser engolido por uma ora torcia para que algumas não o pegassem. Olhou aos lados e só sentiu a brisa forte. Respirou fundo.

Teve a ideia de se levantar e andar. Teria de andar, talvez sentir a areia prender-lhe os movimentos, não poderia saber se algo o agarrava ou se desfazia do passado. Não percebeu que o mar apagava suas pegadas. Talvez desejasse que apagasse as dores que acumulou até aquele dia.

Não havia sol e pensou ser como sombra, intocado por nada. Teve a certeza de que Cristo não teria passado quarenta dias em reclusão, porém era disso que precisava. Andaria por 40 dias, ficaria calado por 40 dias, purgar-se-ia por 40 dias.

Havia ninguém por ali. Caminhou por uns 15 minutos e, como na vida, sentiu que, mesmo andando, parecia estar no mesmo lugar. 15 anos deixados para trás, os mesmos 15 minutos deixados para trás. Respirou fundo. Ajoelhou e passou a cavoucar a areia com o indicador, como se pudesse procurar algo, desvendar outro ou esconder mais um.

Não se lembrou se deixou os chinelos no carro. Sentiu frio, sentiu-se só, mas não solidão, um vazio, porém não se entristeceu com isso, apenas sentiu. Tentou deixar o som em volta dizer o que tinha de ser dito. Deixou que a própria consciência tentasse gritar mais que a maresia daquela tarde cinza.

Sentou-se nos calcanhares, abraçou os joelhos e não imaginou até quando pudesse ficar daquele jeito. Procurou alguma resposta em mais uma onda que chegava e perdeu as contas de quantas esperou para isso acontecer.

Viu um siri, que tentava se enfiar na areia. Pensou em ajudá-lo, preferiu não. Enfim,  o bicho conseguiu.

E foi então que soube que tinha de fazer, a única coisa cabível, a última chance e mais uma de acertar. Tantos anos andando de lado, decidiu ser siri e se esconder no mundo, enfiar-se na vida e tampar-se com os dias.

Voltou ao carro, pôs-se na estrada e seguiu. Os chinelos ficaram na praia mesmo, pois os pés que os calçaram uma vez agora não lhe serviriam mais.

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