
Bebia
seu refrigerante como ele bebia sua cerveja. Até o mesmo movimento de passar a
mão no cabelo, simulando um dia quente e cansativo ela sabia fazer. Era pós-doutorada
no velho e o tinha como deus.
Nas tarde de sábado, ele a colocava na garupa e punham-se a rodar pela estrada, sem destino, apenas o barulho do motor e o vento no rosto. Ela encostava a cabeça nas costas dele e se sentia única, protegida. Aquilo era melhor que o sorvete de creme no fim do passeio.
Talvez tenha sido na saída do bar. O pai caiu, de
uma vez, junto com o sorvete, que estava pela metade. Ela berrou, e os velhos
de dentro saíram para acudir.
Talvez
tenha sido o cigarro, 3 maços por dia, talvez tenha sido a bebida, não
importava, algo deveria ser feito. Ela não titubeou, mesmo pequena, subiu na moto
gigantesca, sabia tudo dela – e seguiu para o hospital mais próximo.
Lembrou-se
de todas as curvas, como deitar, a velocidade certa, o tempo certo de tudo.
Ninguém conseguiria explicar, mas ela chegou ao hospital e conseguiu acionar
uma ambulância.
Mais
uma vez, subiu na moto, sob o espanto de todos e guiou-os até o local. Ele
ainda estava lá, imóvel. A equipe foi rápida. Em minutos prestava os primeiros
socorros. Senão fosse pelo milagre daquela garota, que, aos 6 anos, conseguiu
pilotar uma moto, outro milagre não teria acontecido e o pai não estaria vivo.
Mas
milagres não acontecem sempre, era isso que ela pensava, era isso que todos
pensaram e foi isso que realmente foi comentado. E era Janis Joplin que tocava
naquele dia, assim que a menina chegou em casa. Ela passou a tarde inteira
sozinha, tentando subir na moto.
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