
E o pai repetia pra ela vir, e ela não queria
ir. Mesmo sabendo que era seguro. Não era como a bicicleta. Não era como o
balanço, era algo maior que o mundo, porque o mundo caberia naquele azul sem
fim.
Ficou olhando o pai de fora, ele com os
braços esticados, pronto para abraçar qualquer medo dela, ela com eles cruzados,
pronta para não deixar a paúra sair. Viu o irmão mais velho passar voando por
ela e se atirar ao lado do pai. “E daí?”, pensou, aquilo não a convenceria.
Viu a prima, uns dois dedos mais alta correr
e pular nos braços oferecidos a ela. “Que afronta”, falaria se soubesse essa
palavra. Não se toma para si o que de si não é. Mesmo que as boias nos dois
bracinhos atrapalhassem, ela continuava a se fechar à novidade.
Então a mãe passou por ela, sentou-se na
beirada da piscina e lentamente foi entrando, mostrando que tudo era manso e
calmo. A menina ficou olhando tão tranquila quanto os leves movimentos da mãe.
Nada a faria sair de lá.
Mesmo que o sol começasse a queimar o chão,
convidando-a entrar e a apagar o medo. Mesmo assim, ela ficou por ali. Alguns
minutos depois. Já com os braços dormentes, o pai estava na beirada da piscina
sussurrando a paz à filha. O irmão faminto saiu de lá, a mãe deixou que as
águas sumissem pelos seus passos.
O sol já ardia no meio-dia, e nada de a garota
sair de lá. Resignado e, por que não, frustrado, o pai percebeu que cada um tem
seu dia, cada um tem seu momento. Não adiantaria adiantar o destino ou a
vontade alheia. Afundou e decidiu, mesmo que as braçadas fossem poucas para o
feito, chegar à outra borda.
Talvez tenha sido o sol, talvez tenha sido
qualquer coisa, fato é que, ao emergir e virar-se, quase teve uma crise de
pânico, quando viu a pequena dentro da piscina jogando mais água pra fora do
que para dentro, entretanto, ainda assim, ela cruzava as águas revoltas,
causadas por si mesma.
A mãe ficou entre o sorriso e as lágrimas, o
irmão estava devorando o macarrão, não se viu a prima, e o pai ficou parado, estático, suando frio,
pronto a qualquer sinal de apuros. Ela espalhava água na direção dele, do jeito
dela. O pai deixou que a água chegasse próximo do seu queixo e esperou pela
filha de braços abertos.
Lindo.
ResponderExcluirMe fez lembrar fato parecido com minha filha entrado no mar a primeira vez.
Saudade disso tudo, coisas que ficam gravadas em algum neurônio que deve existir no coração!!
Lindo.
ResponderExcluirMe fez lembrar fato parecido com minha filha entrado no mar a primeira vez.
Saudade disso tudo, coisas que ficam gravadas em algum neurônio que deve existir no coração!!
Que bom, Nelso, consegui, ainda que sem querer, trazer à tona - proposital isso - essas delícias aos seus dias!
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