Acordou num sobressalto, de repente não era
mais o lugar onde acordava, estava no chão, num corredor longo com várias
portas abertas, das quais ventos e palavras sopravam. Reconheceu-se em todas
elas, jurava ser sonho, mas não despertou. Não havia outra coisa a ser feita,
senão andar e espiar.
Parou em frente à primeira porta e viu que a única surra que tomou do pai estava prestes a acontecer. Não queria
ter quebrado o vaso com a bola, confiava na própria habilidade, mesmo ouvindo
os conselhos do velho. Quando se viu aparecendo na sala, não titubeou, entrou
nela e falou ao garoto pra sair. Atônito, o menino correu, e o vaso, minutos
depois, continuaria intacto.
Saiu atordoado com a situação e percebeu que
havia acontecido, sim, conseguiu evitar uma angústia que trazia no peito desde
os 9 anos. Não apanhou do pai e o perdão surgiu imediatamente. Saiu e fechou
aquela porta.
Caminhou até a segunda porta, reconheceu
imediatamente aquela situação. Viu que os assaltantes estavam atrás dele, o
tênis novo era o chamariz principal a isso. Se tivesse entrado no ônibus lotado
e não resolvido testar a maciez do calçado, talvez eles não o teriam roubado. E
foi o que fez, apareceu e avisou a si mesmo pra invadir o coletivo mesmo assim.
E os dois ficaram observando o ônibus sumir. Saiu e fechou aquela porta.
Sorriu, adorou o jogo e percebeu que poderia
fechar todas as restantes. Na próxima, viu-se no acidente que mataria o amigo
de infância, a bebedeira e a adrenalina da noite não o fizeram parar no farol
vermelho. Entrou rapidamente na sala e se pôs na frente do carro, que quase o
atropelou, mas, ainda que bêbado, ele se viu e ficou incrédulo, a jamanta
passou a toda e o carro seguiu manso quando o verde surgiu. Ambos sorriram. Ele
saiu e fechou aquela porta.
Mais à frente, percebeu que brigaria com a
esposa por causa da desconfiança boba dele. Soube que seria pontual, o início do
fim de tudo. Lembrou-se da depressão por que passou. Entrou e avisou a si mesmo
para beijá-la antes de falar algo ao soltar a xícara de café. E assim, calou a
moça com um beijo longo. Ele saiu e fechou aquela porta.
Quando percebeu, todas estavam fechadas, sim,
os traumas - as sensações de perda, de angústia - estavam cerradas para sempre.
Mal conseguia se conter de alegria, sim, resolvera tudo de forma bizarra. Sorriu até sentir aquele frio, que o incomodava de
modo incessante. Foi então que despertou. Dormir de janela aberta pode muitas
vezes ter esses imprevistos. Como não haveria quem o fizesse por si, ele se
levantou e fechou aquela janela.
Professor, seu texto é uma boa metáfora de que, quando uma porta se abre, nunca se sabe o que vai passar por ela, pode ser uma angústia, um medo, uma decepção. E realmente, quando uma porta se fecha,indica o fim de um processo e quiçá, o começo de outro. Assim é a vida.Um abraço! LÍVIA
ResponderExcluirQue assim seja sempre, e, pelo caminho, vamos aprendendo, perdoando... Abraço e obrigado, Livia!
ResponderExcluirDe nada, prô! Boa semana!
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