Sempre cresceu achando que os melhores amigos eram medidos durante o período de tristezas. Bastava a sombra aumentar que trariam a luz necessária para se seguir por ela. Seriam os primeiros a acender a tocha e estariam sempre por perto.
Não se pode querer um carrossel de melhores amigos, mas pode se escolher quem andará com você neles. E a moça trazia a menina debaixo de sua preferência quando caiu durante o recreio e abriu o joelho. Foi ela quem segurou sua mão enquanto a diretora passava o merthiolate. A partir daí, sempre ficaram juntas.
Naquele dia, anos depois, enquanto se encaminhava ao bar para dar a notícia, lembrou de todos os momentos ruins pelos quais passou. Quando a matemática não entrava em sua mente e a dedicada amiga passou horas mostrando quão possível eram os números.
Lembrou também que nem sempre um 42 seria o fim do mundo, percebeu que se amar como era seria a melhor forma de não desistir de si mesma, ainda que o 38 da amiga fosse um sonho ainda impossível. Assim mesmo achou divertido pedir dois números acima nas compras em conjunto.
E como esquecer o dia que descobriu, na noite de formatura, que o namoradinho preferia loiras. Borrou a maquiagem inteira e ficou rouca de tanto pedir à amiga para não perder o baile por causa de um romance infrutífero como aquele. Sorriu.
E daí vieram romances e mais romances frustrados. Lágrimas atrás de lágrimas. E a amiga sempre perto a enxugá-las. Sabia que não tinha o talento para aqueles 5 anos de namoro feliz que a dona do lenço protagonizava. Sorriu.
Vieram 9 meses de olhos secos, nove meses de sorrisos, 9 meses apenas de alegrias. E ela deveria ser a primeira a saber. Chegou pontualmente como sempre e a amiga estava lá antes dela, como sempre. sorriram e se abraçaram. Logo após de escolhidas a bebida, o pedido de casamento foi revelado.
Os sorrisos da amiga se calaram imediatamente e os alertas apareceram on the rocks. insanidade casar em tão pouco tempo. Despesas inesperadas talvez. Nem se sabia se era realmente a pessoa ideal. Preocupações de uma amiga zelosa, atenta.
As bebidas ficaram pela metade. O abraço foi mais contido e o sorriso da amiga não voltou não voltou mais, dera lugar à sisudez. Talvez não tenha percebido e ainda assim sorriu pela preocupação da meia-irmã.
Estava tão feliz que não percebeu que o merthiolate, os lenços, os números menores e os amparos vinham sempre para se curar uma ferida. Estava tão feliz que não percebeu que era fácil apaziguar quando o oposto sofria. Estava tão feliz que não percebeu que, pela primeira vez, estava feliz e talvez nunca tenha percebido que sorrir um sorriso igual não é lá uma tarefa digna.
Porém, se caso desse algo errado, a amiga seria a primeira a secar-lhe as lágrimas...