Bastião
era taxista. E, naquela tarde de segunda-feira, um casal animado entraria em seu
carro rumo a um destino inusitado: “Ao motel mais próximo, por favor”. Tudo bem
que ruas, alamedas e avenidas faziam parte de seu itinerário diariamente, mas
os locais que as margeavam não lhe eram de domínio.
A
sinceridade falou mais alto e disse que o que conhecia ficava a 15 km de lá, cujo dono, compadre de
anos, sempre recomendou para que o taxista e a esposa aparecessem por lá. “Sem
problemas”. O tesão faz isso, ele concordou. Com o trânsito pouco lento, 50 reais
de corrida seriam bem-vindos, porém a pouca castidade e exibição no banco traseiro
foram mais convidativas.
Pisou
fundo e, em exatos 30 minutos – longos, por sinal, a Fonte dos Prazeres
aparecia linda na frente de ambos. Ele parou na recepção, teve de intermediar a
suíte, piscou para a menina - filha do amigo - passou os documentos, levou-os
até o 45 e saiu.
O
trajeto de volta serviu como sorriso. Aquilo seria uma história e tanto para
amigos. 40 minutos depois, estava de volta ao ponto, mal estacionou e uma outra
mulher entrou esbaforida em seu carro, dizendo: “O senhor acabou de levar um
casal há pouco, não?”
A
descrição era exata do rapaz.
-
Ele é meu marido! Quero saber aonde o senhor os levou e me leve até lá, agora!
Poucos
segundos separaram o não do sim. 300 reais estavam em suas mãos antes de sair
em disparada. A moça chorava copiosamente. Bastião, com anos de prática, pelo
caminho tentou acalmá-la. Disse que abriria mão da corrida pela paz dela. Mas a
moça estava irredutível.
1
hora depois, chegavam ao local. Teve de escolher um quarto, deixou ambas
identidades na recepção – piscou de novo para a menina - e teve de parar em
frente ao 45. Rezando para que ela sumisse dali e ele também. Daí então, mais
300 reais apareceram na sua mão: “Espere aqui, por favor, não demoro”.
600
reais valeriam aquele constrangimento? Sim, com certeza. Tentou fazer o papel
de expectador. Em 25 minutos, não se sabe como, ambos saíram de lá. Sim, o
casal no papel. E pior, entre sorrisos e afagos. Como assim???
Saíram
os três e deixaram a moça lá. Quase uma hora depois, deixava os dois no apartamento.
Durante o caminho, ele teve de se segurar para perguntar o porquê daquilo tudo.
E a moça, coitada? Ficou lá. Sem casal, sem carona, nada. Para endossar a
cumplicidade, mais 400 reais apareceram na suas mãos.
Três
corridas por 1050 reais? Mas isso não comprou a paz dele. Antes mesmo de pensar,
voltou ao motel. E, qual não foi sua surpresa, ao ver a esposa lá, parada em
frente ao local. A filha, que contou pro pai, que contou pra esposa, que bateu as notícias para a comadre.
As
notícias correm rápido, quem explicaria um suingue do sonso Bastião com pessoas
descoladas. A moça largada já havia ido embora.
E
tudo acabou bem, porque os mais de mil reais serviram para comprar a paz da
esposa, que exigiu um jantar romântico no melhor restaurante da cidade e toda uma produção a
isso. A noite terminou muito linda e fogosa. Claro, no motel Fonte dos Prazeres,
cortesia do compadre, mas não na suíte 45, que estava ocupada no momento.